VARIEDADES TRADICIONAIS (LANDRACES) DA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

Autores: Miguel A. A. Pinheiro de Carvalho, Humberto Nóbrega, Gregório Freitas,
Teresa Santos, Carla Gouveia, Emanuel Silva & Filipe Ganança



AS VARIEDADES LOCAIS (LANDRACES)

As variedades locais (landraces) são uma componente fundamental da agrodiversidade e dos recursos genéticos para a agricultura e alimentação. A mera existência na Região Autónoma da Madeira (RAM), e o seu uso pelos agricultores e pelo setor primário, assume grande importância em termos de segurança e qualidade alimentar, sustentabilidade do território e diversificação da economia rural. Estas desenvolvem-se em áreas geográficas delimitadas, devido à interação de múltiplos fatores, entre os quais se incluem a manutenção e “seleção” do material de propagação pelos agricultores, condições agroecológicas específicas e diversidade ecogeográfica, sistemas de produção (agrossistemas) únicos e a ação seletiva de fatores abióticos ou bióticos.

A Região Autónoma da Madeirareúne condições ímpares, onde ocorre a interação de vários destes fatores num território pequeno, mas com grande diversidade de condições agroecológicas. Mais de 160 espécies com uso agrícola foram introduzidas na Região, para fins alimentares, condimentares, religiosos, medicinais, ornamentais ou outros. 

A maioria destas espécies permanece em uso no território. As principais culturas agrícolas caracterizam-se por serem detentoras de uma grande diversidade intraespecífica construída por variedades locais ou tradicionais.

As variedades locais ou tradicionais são uma entidade (população no campo agrícola) ou conjunto de entidades, com distribuição ecogeográfica comum, que resultam da ação secular dos agricultores, partilham carateres botânicos ou agronómicos chave, são heterogéneas, estão adaptadas às condições ambientais e agroecológicas, a práticas agrícolas locais, possuem um registo histórico documentado e apresentam valor agrícola (agronómico) e etnográfico, ou estão associadas a tradições económicas, gastronómicas, culturais ou religiosas. 

Estas variedades possuem figura jurídica legal conferida pela Commission Directive, 2009/145/EC. No entanto, o seu reconhecimento está dependente de um conjunto de requisitos, que envolve a sua correta cadastragem, documentação, registo e manutenção.

O Banco de Germoplasma ISOPlexis desenvolve, desde 1996, um programa de inventariação, conservação ex situ e in situ, cadastragem e avaliação das variedades locais e tradicionais da RAM. 

Esta página destina-se a identificar algumas dessas variedades locais e divulgar a sua importância junto de agricultores e da população em geral, de modo a garantir o seu reconhecimento e valorização pela sociedade.

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Feijão Corno de Carneiro

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Milho da Terra

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Milho de Santana

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Trigo Preto

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Trigo Pardo

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Trigo Temporão

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Batata Batateira

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Batata Doce de 5 Bicos

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Inhame Branco

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DESCRIÇÃO DAS VARIEDADES

FEIJÃO CORNO DE CARNEIRO



Origem geográfica provável: Freguesia de Santa Cruz, concelho de Santa Cruz. A documentação histórica do cultivo desta variedade remonta ao século XVIII. A variedade é cultivada um pouco por toda a costa sul. A variedade corno de carneio caracteriza-se por um ciclo de produção médio, fruto comprido pouco fibroso e filamento tenro, que permite o consumo fresco. Semente de tamanho e peso médio, tegumento com coloração castanha uniforme. A variedade possui bom potencial produtivo, apresentando equilíbrio entre a quantidade e qualidade nutricional, valor económico e agronómico, boa adaptação às condições agroecológicas locais, resistência a doenças e stresses abióticos, bom rendimento e taxa de maturação. O cultivo da variedade é promovido com ênfase na produção e raramente pela sua qualidade e benefícios nutricionais. O feijão corno carneiro aparece associado a tradições gastronómicas locais, utilizado com batatas rajadas em feijão-verde. Esta é uma variedade de conservação registada no catálogo nacional de variedades. Os recursos genéticos e a semente padrão de manutenção desta variedade são mantidos pelo BG ISOPlexis.
Para mais informação contactar a equipa técnica do Banco.

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MILHO DA TERRA



Origem geográfica provável: freguesia de Santa Cruz, concelho de Santa Cruz. A documentação histórica do cultivo desta variedade remonta ao século XVIII. A variedade é cultivada na costa sul da Madeira, nos concelhos de Santa Cruz e Câmara de Lobos. O milho da terra caracteriza-se por ter um ciclo de produção médio-curto, sendo cultivado em consociação com feijão e abóbora, por vezes em monocultura. As espigas são delgadas e longas, de 8 fileiras. Grão pequeno, peso médio, coloração predominante amarela, com tons variáveis escuros e vermelhos. A variedade possui bom potencial produtivo, boa qualidade organoléptica, valor económico e agronómico razoável, boa adaptação às condições agroecológicas locais. O milho da terra aparece associado a tradições gastronómicas locais, sendo consumido em fresco, nomeadamente em sopas campestres, cozidos da ceia São João, juntamente com o feijão maduro e atum, massaroca assada na brasa. Esta é uma variedade de conservação registada no catálogo nacional de variedades. Os recursos genéticos e a semente padrão de manutenção desta variedade são mantidos pelo BG ISOPlexis.
Para mais informação contactar a equipa técnica do Banco.

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MILHO DE SANTANA



Origem geográfica provável: freguesia do Faial, concelho de Santana. A documentação histórica do cultivo desta variedade remonta ao século XVII. A variedade é cultivada na costa norte da Madeira, com incidência nos concelhos de Santana, Machico, São Vicente e Porto Moniz. O milho de Santana caracteriza-se por ter um ciclo de produção médio curto, sendo cultivado em consociação. As espigas são delgadas e compridas, de 8 fileiras. Grão de coloração branca, grande e peso médio. A variedade possui bom potencial produtivo, em grão e biomassa. O grão possui boa aptidão para a produção de farinha, valor económico e agronómico razoável, boa adaptação às condições agroecológicas locais, sendo consumido em fresco. O milho de Santana aparece associado a tradições gastronómicas da cozinha tradicional Madeirense, nomeadamente a farinha é utilizada na confeção de papas de milho, cozido (com couve, favas, banha de porco, torresmos, peixe frito) ou frito. A Escarpiada, milho pilado ou pisado, é um prato confecionado principalmente no Porto Santo. Tradições culturais associadas à variedade no concelho de Santana incluem a desfolhada, esbangar do Milho e a Secagem em ramalhetes (norte da ilha da Madeira). É uma variedade de conservação registada no catálogo nacional de variedades. Os recursos genéticos e a semente padrão de manutenção desta variedade são mantidos pelo BG ISOPlexis.
Para mais informação contactar a equipa técnica do Banco.

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TRIGO PRETO



Trigo duro, com origem geográfica provável na freguesia dos Canhas, concelho da Ponta do Sol. A documentação histórica do cultivo desta variedade remonta ao século XIX, mas considerando a sua origem e a história da cultura do trigo na Madeira, será anterior. A variedade era cultivada um pouco por toda a costa sul. A variedade carateriza-se por um ciclo de produção médio. A planta possui espiga e aristas de coloração pretas, semente de tamanho e peso médio, com aspeto vítreo. A variedade possui bom potencial produtivo, valor agronómico e boa adaptação às condições agroecológicas locais. O trigo preto aparece associado a tradições gastronómicas, nomeadamente na confeção de pão de trigo caseiro, onde era misturado, com farinha de trigo mole e batata-doce, cozido em forno de lenha, também usado na confeção do bolo do caco, cuscuz e papas de frangolho. Tradições culturais associadas à variedade estão relacionadas, com sua utilização ornamental nos arranjos do presépio na época do Natal. Os recursos genéticos e a semente padrão de manutenção desta variedade são mantidos pelo BG ISOPlexis.
Para mais informação contactar a equipa técnica do Banco.

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TRIGO PARDO



Trigo mole, com origem geográfica provável na freguesia de São Roque do Faial, concelho de Santana. A documentação histórica do cultivo desta variedade remonta ao início do século XX, mas considerando a sua origem e a história da cultura do trigo na Madeira, poderá será anterior. A variedade tinha um cultivo confinado a algumas localidades da costa Norte e Sul. A variedade caracteriza-se por um ciclo de produção médio. A planta apresenta uma espiga compacta, sem pragana (aristas) e semente de tamanho e peso médio. A variedade possui bom potencial produtivo, valor agronómico e boa adaptação às condições agroecológicas locais. O trigo pardo aparece associado a tradições gastronómicas, nomeadamente na confeção de sopa de trigo. Outro uso tradicional é a utilização do colmo na cobertura do telhado das casas, nomeadamente nas freguesias de Santana e São Jorge, concelho de Santana. Os recursos genéticos e a semente padrão de manutenção desta variedade são mantidos pelo BG ISOPlexis.
Para mais informação contactar a equipa técnica do Banco.

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TRIGO TEMPORÃO



Trigo mole, com origem geográfica provável na freguesia da Serra de Água, concelho da Ribeira Brava. A documentação histórica do cultivo desta variedade remonta ao início do século XX. A variedade teria um cultivo confinado às zonas altas deste concelho da costa Sul. É uma variedade quese  carateriza por um ciclo de produção curto, sendo semeada mais cedo do que outras variedades de trigo. A planta apresenta uma espiga pequena, com praganas (aristas) bem desenvolvidas e semente de tamanho e peso mais baixo. A variedade possui um potencial produtivo e valor agronómico razoáveis, boa adaptação às condições agroecológicas locais e resistência a stresses abióticos. O trigo temporão aparece associado a tradições gastronómicas, nomeadamente na confeção de pão de casa tradicional. É utilizada como planta ornamental nas cearinhas e nos arranjos dos presépios nas igrejas e casas particulares. Os recursos genéticos e a semente padrão de manutenção desta variedade são mantidos pelo BG ISOPlexis. 
Para mais informação contactar a equipa técnica do Banco.

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BATATA BATATEIRA



Variedade de batata (semilha), com origem geográfica provável na freguesia e concelho do Porto Moniz. A documentação histórica do cultivo desta variedade é obscura, mas deverá remontar ao século XVIII, introduzida diretamente da América do Sul ou através das Canárias. A variedade é cultivada um pouco por todo o Concelho. É uma variedade que se carateriza por um ciclo de produção médio. Possui uma polpa de cor rosada, apresentando antocianinas. A variedade possui bom potencial produtivo, equilíbrio entre a quantidade e qualidade nutricional, valor económico e agronómico e boa adaptação às condições agroecológicas locais. A batateira aparece associada a tradições gastronómicas locais, nomeadamente é utilizada na confeção dos pratos de semilhas murchas e ao tradicional cozido Madeirense. Tradições culturais associadas à variedade incluem ser um dos ingredientes utilizados no “Panelo”, realizado no Chão da Ribeira, freguesia do Seixal. Os recursos genéticos desta variedade são mantidos pelo BG ISOPlexis. 
Para mais informação contactar a equipa técnica do Banco.

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BATATA-DOCE DE 5 BICOS



Variedade digitata com origem geográfica provável na freguesia do Arco de São Jorge, concelho de Santana. A documentação histórica do cultivo desta variedade remonta ao século XIX, mas a introdução terá sido anterior, representando uma das variedades mais antigas de batata-doce. É cultivada um pouco por toda a ilha da Madeira, em especial nos concelhos de Santana e Porto Moniz. É uma variedade que se carateriza por um ciclo de produção médio. Possui boas qualidades organolépticas. A variedade possui bom potencial produtivo e rendimento, boa aptidão tecnológica, qualidade nutricional, valor económico e agronómico, boa adaptação às condições agroecológicas locais e resistência a stresses abióticos. A variedade de 5 bicos aparece associada a tradições gastronómicas locais, nomeadamente é utilizada na confeção de batata assada, cozido tradicional, pão de batata caseiro. Tradições culturais associadas à variedade estão relacionadas com o seu uso como “moeda de troca” nas transações entre as populações piscatórias e rurais. Os recursos genéticos desta variedade são mantidos pelo BG ISOPlexis. 
Para mais informação contactar a equipa técnica do Banco.

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INHAME BRANCO



Variedade com origem geográfica provável freguesia e concelho de Santa Cruz. A documentação histórica do cultivo desta variedade remonta na Madeira ao século XVII, mas poderá ter sido introduzida no início do povoamento. A variedade é cultivada um pouco por toda a ilha da Madeira. É uma variedade que se caracteriza por um ciclo de produção longo. A variedade possui bom potencial produtivo, equilíbrio entre a quantidade e qualidade nutricional, valor económico e agronómico, boa adaptação às condições agroecológicas locais e resistência a doenças e stresses abióticos, nomeadamente à seca. O inhame branco aparece estritamente associado a tradições gastronómicas e religiosas relacionadas com a Páscoa e a Quaresma. Os recursos genéticos desta variedade são mantidos pelo BG ISOPlexis. 
Para mais informação contactar a equipa técnica do Banco.

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